terça-feira, 30 de dezembro de 2008


É notável e assustador o número de motoristas trafegando na contramão em São Paulo nos últimos meses. De fevereiro a junho há pelo menos meia dúzia de registros de motoristas que andaram 3, 5 e até 9 quilômetros na contramão em avenidas de tráfego intenso e até mesmo em rodovias estaduais. Alguns terminaram “sua aventura” no pára-choque de um caminhão e outros, interceptados como mísseis inimigos pela polícia, foram detidos e estão presos.

Que tipo de “coragem” leva um ser humano cuja pele é tão frágil (que direi dos órgãos vitais?) a lançar-se no contra-fluxo onde circulam a toda a velocidade máquinas de aço com no mínimo uma tonelada de peso a velocidades não menores que 70 quilômetros por hora? Que tipo de pensamento ou desejo ou desafio mexe tanto com as forças mais intrínsecas e arremessa a criatura humana num salto horizontal para a possível e iminente morte? Que força tão irresistível move cada músculo, cada membro e cada partícula da vontade humana rumo ao desconhecido, ao perigoso encontro da polícia ou mesmo do fim prematuro da vida?

Esses motoristas, embora irracionais no comportamento, são meus heróis na ideologia. Um escritor, não muito ortodoxo, escreveu que “o cristão deve andar na contramão do sistema”. Ele ecoa o ensino de Jesus que disse o mesmo com outras palavras: “Quem quiser salvar a sua vida deverá perdê-la”.

Jesus não incentiva o cristianismo irracional do comportamento anti-social nem mesmo o suicídio precoce do João Batista acusador. Embora ele mesmo tenha acusado os falsos religiosos por sua hipocrisia, trafegou na contramão quando amou os pecadores e estendeu-lhes a mão; demonstrou uma vida piedosa, equilibrada e dinâmica numa sociedade agitada e ansiosa; foi disciplinado ao dedicar tempo devido a cada uma das inúmeras atividades que precisavam de sua atenção e presença.

Muitos de nós cristãos estamos de fato na faixa da esquerda, correndo no limite da velocidade. E estamos indo rápido demais, só que infelizmente temos seguido o fluxo comum. Queremos ganhar a vida sem perdê-la. Se possível for, queremos mostrar que estamos indo bem, pela faixa da esquerda, ultrapassando a todos, quando deveríamos estar na contramão..

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G.L.M.

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